Técnica simplifica projetos de produtos inovadores

Antonio Carlos Quinto - 25/11/2009
A pesquisa consistiu na adaptação de uma técnica largamente utilizada no desenvolvimento de softwares, para o desenvolvimento de produtos inovadores.



É possível gerenciar projetos de inovação tecnológica deixando de lado o excesso de burocracia e permitindo que os profissionais se concentrem naquilo que realmente interessa?
A resposta é sim, de acordo com uma pesquisa feita na USP, em São Carlos, pelos pesquisadores Edivandro Carlos Conforto e Daniel Capaldo Amaral.
Gerenciamento Ágil de Projetos
A pesquisa consistiu na adaptação de uma técnica largamente utilizada no desenvolvimento de softwares, para o desenvolvimento de produtos inovadores.
Com base no conjunto de princípios conhecidos como GAP (Gerenciamento Ágil de Projetos), os pesquisadores desenvolveram e implantaram em duas empresas da região de São Carlos um método que denominaram IVPM2 - Iterative and Visual Project Management Method. "Além da pesquisa-ação realizada nas duas empresas, houve um estudo extensivo da literatura sobre o GAP", conta Daniel.
Numa das empresas, o IVPM2 foi implantado em um único projeto. Na outra, o método foi testado num ambiente que o pesquisador chama de multiprojetos, envolvendo simultaneamente o desenvolvimento de sete novos produtos.
A inovação do IVPM2 está no uso da abordagem do GAP para simplificar técnicas de gestão de projetos, combinando painéis visuais, um software livre de gestão de projetos e conceitos de desenvolvimento de produtos, permitindo maior flexibilidade no planejamento e controle de projetos de produtos de alta tecnologia.
Lidando com o novo
Amaral descreve que no gerenciamento de projetos de novos produtos na forma tradicional, a principal preocupação é com o planejamento de todas as etapas de desenvolvimento do produto. "Preocupa-se em detalhar e seguir à risca um planejamento, desde a concepção até o produto final. Mas, quando se trata de um produto em inovação tecnológica, a complexidade e os recursos envolvidos são maiores, dificultando esta tarefa. Encontrar novas formas de solucionar o problema é um desafio para os pesquisadores da área", explica o professor.
No conceito do GAP não se despreza o planejamento, mas o projeto é visualizado como um todo e não por etapas. "Quando se fala em produtos de inovação tecnológica, na maioria das vezes a empresa se envolve num projeto de um produto que nunca fez antes. Daí a grande preocupação em 'planejar' e tentar prever todos os possíveis erros durante o processo. Mas isso é visto como um todo, as vezes por uma única pessoa ou equipe", descreve Amaral.
Planejamento simplificado
No processo de pesquisa-ação para a implantação do IVPM2, o planejamento, em nenhum momento foi deixado de lado, mas sim realizado de forma diferente. "Podemos dizer que houve menos esforço de planejamento e, portanto, um foco maior nos resultados. No método desenvolvido pensa-se no produto como um todo, o que ajuda as pessoas a interagirem e encontrarem melhores soluções. O resultado é a maior participação de todas as equipes envolvidas, já que o gerenciamento total do projeto não ficou sob a responsabilidade de uma pessoa", conta o professor.
A cada etapa do desenvolvimento, desde a elaboração do projeto, as equipes opinavam e tinham a liberdade de até alterar planos, se fosse o caso. "Houve, nos dois casos, menos esforço com o planejamento como um todo", garante Amaral. Já que o método não implica em um planejamento rígido, o professor explica que no IVPM2 existe um "plano de entregas" que pode ser alterado de acordo com a necessidade.
"Um planejamento tradicional tenta prever todos os erros que irão acontecer num novo projeto. Ao se deparar com imprevistos, há um entrave no processo. Com o IVPM2, os entraves também ocorrem, mas são solucionados de maneira menos dolorosa e com a participação de todos", afirma Amaral.
Painéis visuais
Nas duas empresas envolvidas na pesquisa, havia painéis visuais nas áreas de desenvolvimento em que eram descritos os planos de entrega de cada etapa do projeto. "Todos os membros das equipes tinham total liberdade para alterar etapas, desde que devidamente comunicado no painel visual", conta Amaral.
A partir destas informações, os pesquisadores utilizaram softwares livres que foram integrados a todos participantes das equipes de desenvolvimento, para facilitar ainda mais a comunicação e registro dos dados do projeto.
Entre as vantagens do IVPM2, Amaral destaca a redução de apontamentos das etapas de desenvolvimento, o que, segundo ele, é uma das tarefas que mais consomem tempo das pessoas responsáveis pelo controle do projeto.
Resultados
No caso das empresas envolvidas, uma delas reduziu o atraso estimado na conclusão do projeto. Entre as pessoas envolvidas nas empresas, muitos consideraram que o esforço foi menor e que a metodologia é mais simples do que algumas técnicas tradicionais.
Os pesquisadores não aferiram se o sistema influiu na lucratividade das empresas. Amaral também apontou alguns pontos em que o IVPM2 não auxiliou positivamente. "Na relação com o cliente, não houve melhora, bem como na redução de conflitos entre as equipes, apesar de maior diálogo."