QUAL É SUA PREMISSA?

Por Paulo Ricardo Mubarack

Por onde deve começar o planejamento estratégico de uma empresa? Normalmente, MBAs, livros e consultores recomendam que comece pela identidade organizacional (definição de Missão, Visão e Valores) ou pela determinação das metas para o próximo ano. Depois vêm a análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças), fatores críticos de sucesso, desenho de cenários, simulações de receita e de despesas, elaboração de planos de ação (projetos, investimentos), análise de riscos etc. Tudo estaria muito correto se não faltasse o que sempre falta: a avaliação rigorosa e criteriosa das pessoas, do time que vai fazer tudo isto acontecer. Por onde deve começar o planejamento estratégico, portanto? Deve iniciar pela avaliação do time que temos ou que não temos. A estratégia precisa ser adequada ao time. Ou então a estratégia precisa de um novo time, mas a equipe deverá ser sempre o ponto de partida. Nunca vi alguém recomendando isto, a não ser Jim Collins no célebre livro Feitas para Durar, quando escreve: “...primeiro defina o Who, depois determine o What”. Primeiro, quem. Depois, o que fazer.


Muitas vezes, as empresas reúnem uma equipe sem a condição técnica necessária para planejar. O que fazer então, senhor empresário? Antes de planejar, capacitar sua equipe ou contratar outros, solução normalmente muito difícil e pouco prudente. Capacitar também é difícil e pode render frutos apenas no médio e longo prazos. Contratar excelentes consultores no seu negócio ou simplesmente gente do mercado que possa ajudá-lo e misturá-los com sua equipe interna parece ser a melhor saída. Poucos utilizam esta saída. Aliás, muitos nem consideram qualquer solução. Planejam as melhores técnicas com profissionais que podem não ter preparo para executá-las. Não é coerente.


Planejamento não é um jogo de adivinhação ou uma sessão de palpites. Definitivamente, o brainstorming é ferramenta ultrapassada de amadores. Profissionais modernos utilizam ciência, ou seja, dados, fatos, evidências, análise. Quando o planejamento é deficiente, tudo o mais é deficiente. Li uma entrevista do Lula (28/10) sobre a criminalidade no Rio. Disse o presidente: “o problema (o crime) é difícil, senão já teriam resolvido...bandidos são pessoas anormais, pegam em armas e se movimentam muito, o que torna a situação muito complicada para pessoas normais como nós, que não pegam em armas. Mas vamos resolver”. Ao ler a entrevista, lembrei-me de alguns gestores que conheço: eles sempre conceituam tudo novamente, afirmam que é difícil mas que vão resolver. E o tempo passa sem que os resultados cheguem. Que bandidos são assim, Pedro Álvares Cabral já sabia. Que a situação é difícil, Monteiro Lobato já havia avisado. Que metas são difíceis de alcançar, qualquer idiota sabe. Não precisamos no planejamento (ou nas entrevistas do presidente) desta conversa fiada. Precisamos da solução. Mas por que uns e outros praticam a conversa boba? A resposta é muito simples: porque não sabem a solução e porque precisam dizer algo. Enfiaram um microfone na boca do presidente e ele tinha que dizer algo. Colocaram o gerente dentro da sala de planejamento, ele tinha que dizer algo. Seria cômico, não fosse trágico. O método de planejamento estratégico não vai funcionar se for utilizado por pessoas sem preparo. Uma Ferrari não anda direito pilotada por um carroceiro. Algo mais ou menos assim.


Começar o planejamento pelos donos com ajuda externa e avaliação da equipe. Preparar a solução para cobrir as deficiências da equipe. Somente depois, usar SWOT, definir Visão etc. Não é à toa que a maioria dos planejamentos estratégicos não passa de uma piada.


Paulo Ricardo Mubarack (consultor de gestão)